Hoje é...

O que você espera?

O que você espera?

segunda-feira, 26 de julho de 2010

quarta-feira, 7 de julho de 2010


As coisas que amamos
as pessoas que amamos
são eternas até certo ponto.
Duram o infinito variável
no limite de nosso poder
de respirar a eternidade
Pensá-las é pensar que não acabam nunca,
dar-lhes moldura de granito.
De outra maneira se tornam absoluta
numa outra (maior) realidade.
Começam a esmaecer quando nos cansamos,
e todos nos cansamos, por um outro itinerário,
de aspirar a resina do eterno.
Já não pretendemos que sejam imperecíveis.
Restituímos cada ser e coisa à condição precária
rebaixamos o amor ao estado de utilidade.
Do sonho eterno fica esse gozo acre
na boca ou na mente, sei lá, talvez no ar"

Carlos Drummond de Andrade

domingo, 4 de julho de 2010

Precisão


O que me tranqüiliza é que tudo o que existe, existe com uma precisão absoluta. O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete não transborda nem uma fração de milímetro além do tamanho de uma cabeça de alfinete. Tudo o que existe é de uma grande exatidão. Pena é que a maior parte do que existe com essa exatidão nos é tecnicamente invisível. O bom é que a verdade chega a nós como um sentido secreto das coisas. Nós terminamos adivinhando, confusos, a perfeição.


Clarice Lispector

quarta-feira, 30 de junho de 2010

If


If you can keep your head when all about you
Are losing theirs and blaming it on you,
If you can trust yourself when all men doubt you
But make allowance for their doubting too,
If you can wait and not be tired by waiting,
Or being lied about, don't deal in lies,
Or being hated, don't give way to hating,
And yet don't look too good, nor talk too wise:

If you can dream--and not make dreams your master,
If you can think--and not make thoughts your aim;
If you can meet with Triumph and Disaster
And treat those two impostors just the same;
If you can bear to hear the truth you've spoken
Twisted by knaves to make a trap for fools,
Or watch the things you gave your life to, broken,
And stoop and build 'em up with worn-out tools:

If you can make one heap of all your winnings
And risk it all on one turn of pitch-and-toss,
And lose, and start again at your beginnings
And never breath a word about your loss;
If you can force your heart and nerve and sinew
To serve your turn long after they are gone,
And so hold on when there is nothing in you
Except the Will which says to them: "Hold on!"

If you can talk with crowds and keep your virtue,
Or walk with kings--nor lose the common touch,
If neither foes nor loving friends can hurt you;
If all men count with you, but none too much,
If you can fill the unforgiving minute
With sixty seconds' worth of distance run,
Yours is the Earth and everything that's in it,
And--which is more--you'll be a Man, my son!

Rudyard Kipling

sexta-feira, 25 de junho de 2010

José Saramago em Janela da Alma

Pudor


Certas palavras nos dão a impressão de que voam, ao saírem da boca. "Sílfide", por exemplo. É dizer "Sílfide" e ficar vendo suas evoluções no ar, como as de uma borboleta. Não tem nada a ver com o que a palavra significa. "Sílfide", eu sei, é o feminino de "silfo", o espírito do ar, e quer mesmo dizer uma coisa diáfana, leve, borboleteante. Mas experimente dizer "silfo". Não voou, certo? Ao contrário da sua mulher, "silfo" não voa. Tem o alcance máximo de uma cuspida. "Silfo", zupt, plof. A própria palavra "borboleta" não voa, ou voa mal. Bate as asas, tenta se manter aérea mas choca-se contra a parede. Sempre achei que a palavra mais bonita da língua portuguesa é "sobrancelha". Esta não voa mas paira no ar, como a neblina das manhãs até ser desmanchada pelo sol. Já a terrível palavra "seborréia" escorre pelos cantos da boca e pinga no tapete.

"Trilhão" era uma palavra pouco usada, antigamente. Uma pessoa podia nascer e morrer sem jamais ouvir a palavra "trilhão", ou só ouvi-la em vagas especulações sobre as estrelas do Universo. O "trilhão" ficava um pouco antes do infinito. Dizia-se "trilhão" em vez de se dizer "incalculável" ou "sei lá". Certa vez (autobiografia) tive de responder a uma questão de Geografia no colégio. Naquele tempo, a pior coisa do mundo era ser chamado a responder qualquer coisa no colégio. De pé, na frente dos outros e — o pior de tudo — em voz alta. Depois descobri que existem coisas piores, como a miséria, a morte e a comida inglesa. Mas naquela época o pior era aquilo. "Senhor Veríssimo!" Era eu. Era irremediavelmente eu. "Responda, qual é a população da China?" Eu não sabia. Estava de pé, na frente dos outros, e tinha que dizer em voz alta o que não sabia. Qual era a população da China? Com alguma presença de espírito eu poderia dizer: "A senhora quer dizer neste exato momento?", dando a entender que, como o que mais acontece na China é nascer gente, uma resposta exata seria impossível. Mas meu espírito não estava ali. Meu espírito ainda estava em casa, dormindo. "Então, senhor Veríssimo qual é a população da China?" E eu respondi:

— Numerosa.

Ganhei zero, claro. Mas "trilhão", entende, era sinônimo de "numeroso". Não era um número, era uma generalização. Você dizia "trilhão" e a palavra subia como um balão desamarrado, não dava tempo nem para ver a sua cor. E hoje não passa dia em que não se ouve falar em trilhões. O "trilhão" vai, aos poucos, se tornando nosso íntimo. É o mais novo personagem da nossa aflição. Quantos zeros tem um trilhão? Doze, acertei? Se os zeros fossem pneus, o trilhão seria uma jamanta daquelas de carregar gerador para usina atômica parada. Felizmente vem aí uma reforma e outra moeda, com menos zeros e mais respeito. Se não chegaríamos à desmoralização completa.

— E o troco do meu tri?

— Serve uma bala?

Desconfio que o que apressará a reforma é a iminência do quatrilhão. "Quatrilhão" é pior que "seborréia". Depois de dizer "quatrilhão" você tem que pular para trás, senão ele esmaga os seus pés. E "quatrilhão" não é como, por exemplo, "otorrino", que cai no chão e corre para um canto. "Quatrilhão" cai, pesadamente, no chão e fica. Você tenta juntar a palavra do chão e ela quebra. Tenta remontá-la fica "trãoliqua" e sobra o agá. A mente humana, ou pelo menos a mente brasileira, não está preparada para o "quatrillião". As futuras gerações precisam ser protegidas do "quatrilhão". As reformas monetárias, quando vêm, são sempre para acomodar as máquinas calculadoras e o nosso senso do ridículo, já que caem os zeros mas nada, realmente, muda. A próxima reforma seria a primeira motivada, também, por um pudor lingüístico. No momento em que o "quatrilhão" se instalasse no nosso vocabulário cotidiano, mesmo que fosse só para descrever a dívida interna, alguma coisa se romperia na alma brasileira. Seria o caos.

E "caos", você sabe. É uma palavra chiclé-balão. Pode explodir na nossa cara.

Luís Fernando Veríssimo

quarta-feira, 2 de junho de 2010

terça-feira, 1 de junho de 2010

Um presente

Álvaro de Campos


"Toda a gente é interessante
se a gente souber ver toda a gente.
Que obra-prima para um pintor
possível em cada cara que existe!
Que expressões em todas, em tudo!
Que maravilhosos perfis todos os perfis!
Vista de frente, que cara qualquer cara!
Os gestos humanos de CADA QUAL,
Que humanos os gestos!"

Pintor: Romero Britto

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Desejo para os panos dos céus


Se tivesse eu os panos bordados dos céus,
Entremeados com luz dourada e de prata,
O azul e os panos não ofuscantes e escuros
Da noite e da luz e da metade-luz,
Eu espalharia os panos debaixo dos teus pés:
Mas eu, sendo pobre, tenho somente os meus sonhos;
Eu espalhei os meus sonhos debaixo dos teus pés;
Pisa com cuidado porque pisas os meus sonhos.

William Butler Yeats

domingo, 30 de maio de 2010

Eu sei e você sabe

EU SEI E VOCÊ SABE
JÁ QUE A VIDA QUIS ASSIM
QUE NADA NESSE MUNDO LEVARÁ VOCÊ DE MIM
EU SEI E VOCÊ SABE
QUE A DISTÂNCIA NÃO EXISTE
QUE TODO GRANDE AMOR
SÓ É BEM GRANDE SE FOR TRISTE
POR ISSO MEU AMOR
NÃO TENHA MEDO DE SOFRER
QUE TODOS OS CAMINHOS
ME ENCAMINHAM A VOCÊ.

ASSIM COMO O OCEANO, SÓ É BELO COM O LUAR
ASSIM COMO A CANÇÃO, SÓ TEM RAZÃO SE SE CANTAR
ASSIM COMO UMA NUVEM, SÓ ACONTECE SE CHOVER
ASSIM COMO O POETA, SÓ É BEM GRANDE SE SOFRER
ASSIM COMO VIVER SEM TER AMOR, NÃO É VIVER
NÃO HÁ VOCÊ SEM MIM
E EU NÃO EXISTO SEM VOCÊ!

VINÍCIUS DE MORAES

sábado, 29 de maio de 2010

Para se roubar um coração


Para se roubar um coração, é preciso que seja com muita habilidade, tem que ser vagarosamente, disfarçadamente, não se chega com ímpeto,
não se alcança o coração de alguém com pressa.
Tem que se aproximar com meias palavras, suavemente, apoderar-se dele aos poucos, com cuidado.
Não se pode deixar que percebam que ele será roubado, na verdade, teremos que furtá-lo, docemente.
Conquistar um coração de verdade dá trabalho,
requer paciência, é como se fosse tecer uma colcha de retalhos, aplicar uma renda em um vestido, tratar de um jardim, cuidar de uma criança.
É necessário que seja com destreza, com vontade, com encanto, carinho e sinceridade.
Para se conquistar um coração definitivamente
tem que ter garra e esperteza, mas não falo dessa esperteza que todos conhecem, falo da esperteza de sentimentos, daquela que existe guardada na alma em todos os momentos.
Quando se deseja realmente conquistar um coração, é preciso que antes já tenhamos conseguido conquistar o nosso, é preciso que ele já tenha sido explorado nos mínimos detalhes,
que já se tenha conseguido conhecer cada cantinho, entender cada espaço preenchido e aceitar cada espaço vago.
...e então, quando finalmente esse coração for conquistado, quando tivermos nos apoderado dele,
vai existir uma parte de alguém que seguirá conosco.
Uma metade de alguém que será guiada por nós
e o nosso coração passará a bater por conta desse outro coração.
Eles sofrerão altos e baixos sim, mas com certeza haverá instantes, milhares de instantes de alegria.
Baterá descompassado muitas vezes e sabe por que?
Faltará a metade dele que ainda não está junto de nós.
Até que um dia, cansado de estar dividido ao meio, esse coração chamará a sua outra parte e alguém por vontade própria, sem que precisemos roubá-la ou furtá-la nos entregará a metade que faltava.
... e é assim que se rouba um coração, fácil não?
Pois é, nós só precisaremos roubar uma metade,
a outra virá na nossa mão e ficará detectado um roubo então!
E é só por isso que encontramos tantas pessoas pela vida a fora que dizem que nunca mais conseguiram amar alguém... é simples...
é porque elas não possuem mais coração, eles foram roubados, arrancados do seu peito, e somente com um grande amor ela terá um novo coração, afinal de contas, corações são para serem divididos, e com certeza esse grande amor repartirá o dele com você.

Luís Fernando Veríssimo

sexta-feira, 28 de maio de 2010

quinta-feira, 27 de maio de 2010

O alfange do tempo


O tempo é o grande milagre
da vida do homem no mundo.
Não tem começo nem fim.
Mas está vivo, animal
respirando imenso em tudo
que a gente quer, sonha e faz.

O tempo que já passou
te conta como vai ser
o tempo que vai chegar.
Tudo leva a sua marca,
de pétala ou de ferrão.

Tudo traz o seu condão:
a criança correndo; o rio
passando, a rosa se abrindo,
a lágrima da alegria,
o silêncio da amargura,
a luz-mansa da ternura,
o sol negro da pobreza.

O tempo é o nada que é nada.
O tempo é o tudo que é tudo,
o tudo que vira nada,
o nada virando amor,
o amor inventando estrelas,
a mais linda se apagou
na fronte da moça amada.

O tempo está no teu peito
clamando nas coronárias,
mas se esconde nas funduras
dos neurônios quando sonhas.
Está no fogo e no orvalho,
fermenta o pão que não chega,
arde o forno da esperança.

Alma do tempo é a mudança
que come o que vai mudando
e depois dorme sonhando
disfarçado de memória.

Nada perdura na vida,
a não ser o próprio tempo,
finge que passa, mas fica.
Imutável, modifica.

O tempo é o sol do milagre.
Cuidado, ele está chegando
na claridão da manhã.
A noite inteira ficou
no seu passo, te esperando,
de espreita em teu próprio sono.

Vem vindo para comer
na palma da tua mão.
Trata bem dele, aproveita,
enquanto há tempo, o que o tempo
permite ao teu coração.

Quem sabe ele vem trazendo
um alfange? Ninguém sabe.
Pode ser uma canção.

Thiago de Mello - O alfange do tempo

Inspiração

Sou feita de luz, de cheiro de terra molhada, de sons
Fecho os olhos e sinto a sua presença
Intangível, penetro tua alma, descubro tuas cores
Te viro do avesso
Desvendo teu mistério
Desde então, trago-te comigo
Já és parte de mim
Como um dia serei de ti
Não tenho pressa
E assim te espero
Te chamo
Vem

quarta-feira, 3 de março de 2010

Cet amour

Cet amour
Si violent
Si fragile
Si tendre
Si désespéré
Cet amour
Beau comme le jour
Et mauvais comme le temps
Quand le temps est mauvais
Cet amour si vrai
Cet amour si beau
Si heureux
Si joyeux
Et si dérisoire
Tremblant de peur comme un enfant dans le noir
Et si sûr de lui
Comme un homme tranquille au millieu de la nuit
Cet amour qu faisait peur aux autres
Qui les faisait parler
Qui les faisait blêmir
Cet amour guetté
Parce que nous le guettions
Traqué blessé piétiné achevé nié oublié
Parce que nous l’avons traqué blessé piétiné achevé nié oublié
Cet amour tout entier
Si vivant encore
Et tout ensoleillé
C’est le tien
C’est le mien
Celui qui a été
Cette chose toujours nouvelle
Et qui n’a pas changé
Aussi vrai qu’une plante
Aussi tremblante qu’un oiseau
Aussi chaude aussi vivant que l’été
Nous pouvons tous les deux
Aller et revenir
Nous pouvons oublier
Et puis nous rendormir
Nous réveiller souffrir vieillir
Nous endormir encore
Rêver à la mort,
Nous éveiller sourire et rire
Et rajeunir
Notre amour reste là
Têtu comme une bourrique
Vivant comme le désir
Cruel comme la mémoire
Bête comme les regrets
Tendre comme le souvenir
Froid comme le marble
Beau comme le jour
Fragile comme un enfant
Il nous regarde en souriant
Et il nous parle sans rien dire
Et moi je l’écoute en tremblant
Et je crie
Je crie pour toi
Je crie pour moi
Je te supplie
Pour toi pour moi et pour tous ceux qui s’aiment
Et qui se sont aimés
Oui je lui crie
Pour toi pour moi et pour tous les autres
Que je ne connais pas
Reste là
Lá où tu es
Lá où tu étais autrefois
Reste là
Ne bouge pas
Ne t’en va pas
Nous qui sommes aimés
Nous t’avons oublié
Toi ne nous oublie pas
Nous n’avions que toi sur la terre
Ne nous laisse pas devenir froids
Beaucoup plus loin toujours
Et n’importe où
Donne-nous signe de vie
Beaucoup plus tard au coin d’un bois
Dans la forêt de la mémoire
Surgis soudain
Tends-nous la main
Et sauve-nous.

Jacques Prévert - Paroles

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Help Haiti




Click in the title above to know how, please.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Meditação é o desabrochar do conhecimento


Ela atua prontamente e nega o lento e gradual processo de acumulação. Sempre inadiável, a compreensão só existe no presente e sua fulminante e avassaladora ação é motivo de temor consciente ou inconsciente. A compreensão pode alterar o curso de nossa vida, nossa maneira de pensar e agir. Agradável ou não, ela põe em risco todas as nossas relações, mas, em sua falta, persiste o sofrimento. Este só pode cessar através do autoconhecimento, da clara percepção de todo pensamento e sentimento, de cada manifestação do consciente e do inconsciente. A meditação esta na revelação da consciência e daquele movimento inexprimível que transcende o pensamento e o sentimento.

O especialista é incapaz de conceber o todo; vive para a sua especialidade, ocupação mesquinha do cérebro condicionado para ser religioso ou técnico. O talento e a aptidão do homem tendem a fortalecer o egocentrismo e sua ação é sempre fragmentada e conflitante. A capacidade humana só tem significado quando a mente atinge a compreensão global da vida. Caso contrário, a eficiência, um dos subprodutos da aptidão individual, torna seu portador implacável e indiferente à totalidade da vida. O orgulho, a arrogância, e a inveja, decorrentes da eficiência em determinada função, nos levam à competição, à desordem, à discórdia e à felicidade.

A plena compreensão da vida traz um novo significado à atividade humana. Reduzir a vida ao nível estreito e fragmentado da luta pelo pão, pelos prazeres do sexo, da riqueza, da ambição, é fomentar o desespero e o interminável sofrimento. O cérebro opera na área especializada do fragmento, nas atividades egocêntricas, dentro do estreito limite do tempo. Por ser um fragmento e incapaz de ver o todo da vida, por hábil e refinado que seja, o cérebro desenvolve uma ação limitada, parcial. É a mente que contém o cérebro e não ao contrário, e só ela poderá compreender o todo. A capacidade de ver o todo deriva do ato de negar. Este não é o oposto do pensar positivo visto que todo oposto contém o seu contrário. Portanto, o ato de negar não admite oposto.

Ao negar, o cérebro torna-se apto a perceber o todo e cessa de interferir, com suas condenações e resistências no curso da vida. Deve ser espontânea a imobilidade do cérebro, pois qualquer espécie de esforço concorre para destruí-lo através da imitação e do conformismo. Do estado de negação surge a passiva imobilidade do cérebro, capaz de perceber o todo; nesse estado, de pura percepção, não existe o observador ou aquele que experimenta; só existe o ver. Então, a mente está desperta, livre da contradição e do conflito, gerados pela divisão entre o pensador e o pensamento. Existe apenas luz e claridade.

Livro: Diário de Krishnamurti
páginas 102 e 103
Tradução de Alexandre Trifler
Editora Cultrix

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Assemelha-te de novo à árvore que amas


Assemelha-te de novo à árvore que amas, a árvore de grandes ramos: silenciosa e atenta, ela deixa-se pender sobre o mar.

Friedrich Nietzsche

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Namastê


Namastê ou namasté (em sânscrito: नमस्ते, [nʌmʌsˈteː]) é um cumprimento ou saudação falada, bastante comum no Sul da Ásia. Namaskar é considerado uma forma ligeiramente mais formal, mas ambas as expressões expressam um grande sentimento de respeito.

Utiliza-se na Índia e no Nepal por hindus, sikhs, jainistas e budistas. Nas culturas indianas e nepalesas, a palavra é dita no início de uma comunicação verbal ou escrita. Contudo, o gesto feito com as mãos dobradas é feito sem ser acompanhado de palavras quando se despede. Na ioga, namaste é algo que se dirá ao instrutor e que, nessa situação, significa “sou o seu humilde criado”.

Literalmente significa "curvo-me perante ti"; a palavra provém do sânscrito namas, "curvar-se", "fazer uma saudação reverencial", e (te), "te".

Quando dito a outra pessoa, é normalmente acompanhada de uma ligeira vénia feita com as duas mãos pressionadas juntas, as palmas tocando-se e os dedos apontando para cima, no centro do peito. O gesto também pode ser realizado em silêncio, contendo o mesmo significado.
Namaste é uma das algumas palavras sânscritas comumente reconhecidas por aqueles que não falam hindi. No Ocidente, ela é usada para indicar a cultura sul-asiática em geral. "Namaste" é particularmente associada geralmente à aspectos da cultura sul-asiática como o vegetarianismo, a ioga, e o hinduísmo.

Recentemente, e mais globalmente, o termo namaste foi associado especialmente à ioga e à meditação. Neste contexto, ele foi visto em uma grande variedade de termos com significados complicados e poéticos que se ligam com as origens espirituais da palavra. Alguns exemplos:

"Eu honro o Espírito em você que também está em mim." -- atribuída ao autor Deepak Chopra
"Eu honro o local em você em que o Universo inteiro reside, eu honro o lugar em você que é de Amor, de Integridade, de Sabedoria e de Paz. Quando você está neste lugar em você, e eu estou neste lugar em mim, nós somos um."
"Eu saudo o Deus dentro de você."
"Seu espírito e meu espírito são um." -- atribuída à Lilias Folan, ensinamentos compartilhados de sua jornada à Índia.
"O divino em mim cumprimenta o divino em você."
"A Divinidade dentro de mim compreende e adora a Divinidade dentro de você."
"Tudo que é melhor é mais superior em mim cumprimenta/saúda tudo que é melhor e mais alto em você"
"O Deus que habita em mim saúda o Deus que habita em você."

Fonte: Wikipédia

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Caim e Abel

Caminhavam pelo deserto e reconheceram-se de longe, porque eram ambos muito altos. Os irmãos sentaram-se ambos na terra, fizeram uma fogueira e comeram. Guardavam silêncio, à maneira das pessoas cansadas quando declina o dia. No céu aparecia uma ou outra estrela que ainda não recebera o nome. Abel e Caim encontraram-se depois da morte de Abel. Caminhavam pelo deserto e reconheceram-se de longe, porque eram ambos muito altos. Os irmãos sentaram-se ambos na terra, fizeram uma fogueira e comeram. Guardavam silêncio, à maneira das pessoas cansadas quando declina o dia. No céu aparecia uma ou outra estrela que ainda não recebera o nome. À luz das chamas, Caim reparou na marca da pedra na testa de Abel e deixou cair o pão que ia levar à boca e pediu que lhe fosse perdoado o seu crime.

Abel respondeu:

- Tu mataste-me ou fui eu que te matei? Já não me lembro; aqui estamos juntos como dantes.

- Agora sei que na verdade me perdoaste - disse Caim -, porque esquecer é perdoar. Eu tratarei também de esquecer.

Abel disse devagar:

-É verdade. Enquanto dura o remorso dura também a culpa.


Jorge Luis Borges, in Elogio das Sombras,
Obras Completas II 1952-1972

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

D. Zilda Arns - In memorian


Ela escolheu a medicina, mais do que profissão, como uma missão de vida. Zilda Arns, médica pediatra e sanitarista nascida em Santa Catarina, enveredou pelos caminhos da saúde pública para salvar crianças pobres da mortalidade infantil, da desnutrição e da violência familiar e social. A solidariedade estava no sangue e o desejo de ajudar o próximo era inabalável. Vítima do terremoto que assolou, no dia 12 de janeiro, o Haiti, a médica tinha 73 anos, morava em Curitiba e deixa cinco filhos, dez netos, mais uma grande lição de amor ao próximo, de vida.


Representante da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), do Conselho Nacional de Saúde e membro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), Zilda estava em uma missão humanitária e, no momento do terremoto, andava pelas ruas com um sargento do Exército brasileiro. Ela faleceu nos escombros.

Para saber mais sobre esta maravilhosa mulher, clique: http://msn.bolsademulher.com/estilo/zilda_arns-96879.html

Que todos possam inspirar-se no modelo de ser humano que esta mulher foi. Espero que agora ela esteja sendo amparada pelos seus guias e mentores espirituais e que retorne a sua Pátria Espiritual, laureada pelas conquistas que tão sabiamente realizou enquanto aqui esteve no orbe terrestre, rumo as esferas elevadas, dignas dos espíritos bondosos e sábios. Muita paz!

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Canção do Sonho Acabado


Já tive a rosa do amor
- rubra rosa, sem pudor.
Cobicei, cheirei, colhi.
Mas ela despetalou
E outra igual, nunca mais vi.
Já vivi mil aventuras,
Me embriaguei de alegria!
Mas os risos da ventura,
No limiar da loucura,
Se tornaram fantasia...
Já almejei felicidade,
Mãos dadas, fraternidade,
Um ideal sem fronteiras
- utopia! Voou ligeira,
Nas asas da liberdade.
Desejei viver. Demais!
Segurar a juventude,
Prender o tempo na mão,
Plantar o lírio da paz!
Mas nem mesmo isto eu pude:
Tentei, porém nada fiz...
Muito, da vida, eu já quis.
Já quis... mas não quero mais...

Cecília Meireles

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

A vida é bela para quem a faz bela

Neste mês de dezembro completo 70 anos. Pelas condições brasileiras, me torno oficialmente velho. Isso não significa que estou próximo da morte, porque esta pode ocorrer já no primeiro momento da vida. Mas é uma outra etapa da vida, a derradeira. Esta possui uma dimensão biológica, pois irrefreavelmente o capital vital se esgota, nos debilitamos, perdemos o vigor dos sentidos e nos despedimos lentamente de todas as coisas.

De fato, ficamos mais esquecidos, quem sabe, impacientes e sensíveis a gestos de bondade que nos levam facilmente às lágrimas. Mas há um outro lado, mais instigante. A velhice é a última etapa do crescimento humano. Nós nascemos inteiros. Mas nunca estamos prontos. Temos que completar nosso nascimento ao construir a existência, ao abrir caminhos, ao superar dificuldades e ao moldar o nosso destino. Estamos sempre em gênese. Começamos a nascer, vamos nascendo em prestações ao longo da vida até acabar de nascer. Então entramos no silêncio. E morremos.

A velhice é a última chance que a vida nos oferece para acabar de crescer, madurar e finalmente terminar de nascer. Neste contexto, é iluminadora a palavra de São Paulo: ”na medida em que definha o homem exterior, nesta mesma medida rejuvenece o homem interior”(2Cor 4,16). A velhice é uma exigência do homem interior. Que é o homem interior? É o nosso eu profundo, o nosso modo singular de ser e de agir, a nossa marca registrada, a nossa identidade mais radical. Esta identidade devemos encará-la face a face.

Ela é pessoalíssima e se esconde atrás de muitas máscaras que a vida nos impõe. Pois a vida é um teatro no qual desempenhamos muitos papéis. Eu, por exemplo, fui franciscano, padre, agora leigo, teólogo, filósofo, professor, conferencista, escritor, editor, redator de algumas revistas, inquirido pelas autoridades doutrinais do Vaticano, submetido ao “silêncio obsequioso” e outros papéis mais. Mas há um momento em que tudo isso é relativizado e vira pura palha.

Então deixamos o palco, tiramos as máscaras e nos perguntamos: Afinal, quem sou eu? Que sonhos me movem? Que anjos que habitam? Que demônios me atormentam? Qual é o meu lugar no desígnio do Mistério? Na medida em que tentamos, com temor e tremor, responder a estas indagações vem à lume o homem interior. A resposta nunca é conclusiva; perde-se para dentro do Inefável.

Este é o desafio para a etapa da velhice. Então nos damos conta de que precisaríamos muitos anos de velhice para encontrar a palavra essencial que nos defina. Surpresos, descobrimos que não vivemos porque simplesmente não morremos, mas vivemos para pensar, meditar, rasgar novos horizontes e criar sentidos de vida.
Especialmente para tentar fazer uma síntese final, integrando as sombras, realimentando os sonhos que nos sustentaram por toda uma vida, reconciliando-nos com os fracassos e buscando sabedoria. É ilusão pensar que esta vem com a velhice. Ela vem do espírito com o qual vivenciamos a velhice como a etapa final do crescimento e de nosso verdadeiro Natal.

Por fim, importa preparar o grande Encontro. A vida não é estruturada para terminar na morte mas para se transfigurar através da morte. Morremos para viver mais e melhor, para mergulhar na eternidade e encontrar a Última Realidade, feita de amor e de misericórdia. Ai saberemos finalmente quem somos e qual é o nosso verdadeiro nome.

Nutro o mesmo sentimento que o sábio do Antigo Testamento: ”contemplo os dias passados e tenho os olhos voltados para a eternidade”.

Por fim, alimento dois sonhos, sonhos de um jovem ancião: o primeiro é escrever um livro só para Deus, se possível com o próprio sangue; e o segundo, impossível, mas bem expresso por Herzer, menina de rua e poetisa:”eu só queria nascer de novo, para me ensinar a viver”. Mas como isso é irrealizável, só me resta aprender na escola de Deus. Parafraseando Camões, completo: mais vivera se não fora, para tão longo ideal, tão curta a vida.

Leonardo Boff

domingo, 10 de janeiro de 2010

Luz em ti


É um tesouro inigualável, teu somente.
Ninguém dispõe dele em teu lugar.
Nas horas mais difíceis, podes gastá-lo sem preocupação.
Quando alguém te fira, é capaz de revelar-te a grandeza da alma, no brilho do perdão.
No momento em que os seres mais queridos porventura te abandonem, será parte luminosa de tua bênção.
Ante os irmãos infelizes, é o teu cartão de paz e simpatia.
Nos empreendimentos que te digam respeito ao próprio interesse, converte-se em passaporte para a aquisição das vantagens que desejes usufruir.
No relacionamento comum, transforma-se na chave para a formação das amizades fiéis.
Na essência, é um investimento, a teu próprio favor, que realizas sem o menor prejuízo.
Esse tesouro é o teu sorriso, - luz de Deus em ti mesmo, - que nenhuma circunstância pode extinguir e que ninguém consegue arrebatar.

Meimei

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

A pergunta que não quer calar

Quantas vítimas serão necessárias para que as esferas federal, estadual e municipal tomem as devidas providências durante o ano a fim de se evitar calamidades como as que estamos presenciando no Rio de Janeiro nesta época?

domingo, 3 de janeiro de 2010

Dos amores humanos, o menos egoísta, o mais puro e desinteressado é o amor da amizade.
Cícero

sábado, 2 de janeiro de 2010

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Felicidade realista


De norte a sul, de leste a oeste, todo mundo quer ser feliz. Não é tarefa das mais fáceis. A princípio, bastaria ter saúde, dinheiro e amor, o que já é um pacote louvável, mas nossos desejos são ainda mais complexos.

Não basta que a gente esteja sem febre: queremos, além de saúde, ser magérrimos, sarados, irresistíveis. Dinheiro? Não basta termos para pagar o aluguel, a comida e o cinema: queremos a piscina olímpica, a bolsa Louis Vuitton e uma temporada num spa cinco estrelas. E quanto ao amor? Ah, o amor... não basta termos alguém com quem podemos conversar, dividir uma pizza e fazer sexo de vez em quando. Isso é pensar pequeno: queremos AMOR, todinho maiúsculo. Queremos estar visceralmente apaixonados, queremos ser surpreendidos por declarações e presentes inesperados, queremos jantar à luz de velas de segunda a domingo, queremos sexo selvagem e diário, queremos ser felizes assim e não de outro jeito.

É o que dá ver tanta televisão. Simplesmente esquecemos de tentar ser felizes de uma forma mais realista. Por que só podemos ser felizes formando um par, e não como ímpares? Ter um parceiro constante não é sinônimo de felicidade, a não ser que seja a felicidade de estar correspondendo às expectativas da sociedade, mas isso é outro assunto. Você pode ser feliz solteiro, feliz com uns romances ocasionais, feliz com três parceiros, feliz sem nenhum. Não existe amor minúsculo, principalmente quando se trata de amor-próprio.

Dinheiro é uma benção. Quem tem, precisa aproveitá-lo, gastá-lo, usufruí-lo. Não perder tempo juntando, juntando, juntando. Apenas o suficiente para se sentir seguro, mas não aprisionado. E se a gente tem pouco, é com este pouco que vai tentar segurar a onda, buscando coisas que saiam de graça, como um pouco de humor, um pouco de fé e um pouco de criatividade.

Ser feliz de uma forma realista é fazer o possível e aceitar o improvável. Fazer exercícios sem almejar passarelas, trabalhar sem almejar o estrelato, amar sem almejar o eterno. Olhe para o relógio: hora de acordar. É importante pensar-se ao extremo, buscar lá dentro o que nos mobiliza, instiga e conduz, mas sem exigir-se desumanamente. A vida não é um game onde só quem testa seus limites é que leva o prêmio. Não sejamos vítimas ingênuas desta tal competitividade. Se a meta está alta demais, reduza-a. Se você não está de acordo com as regras, demita-se. Invente seu próprio jogo.

Martha Medeiros